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A História do Surfe na Austrália (parte 2)

Miniaturas de pranchas australianas em exposição no Surf World Museum. Foto: Tiago Dias … continuação (parte 1)

O surfe estava demais! Ele estava tendo agora um grande destaque e aparecia nas grandes telas do cinema, estava nos jornais e revistas. Na praia era simplesmente inevitável, parecia que todo mundo queria ser surfista, ou pelo menos se parecer com um. 'Midget' Farrelly era o surfista mais reconhecido, mas existiam diversos outros jovens surfistas que estavam seguindo seu caminho e começavam a ameaçar sua dominação. Dentre eles se encontrava um garoto chamado Robert "Nat" Young, que assim como os outros, apresentava um estilo mais agressivo frente ao estilo polido de 'Midget'. Apesar de muita discussão sobre ambos os estilos de surfar, Nat dirigiu seu mais 'aggro' estilo e renovou seu equipamento o que levou a vencer o campeonato mundial em San Diego em 1966.

Mesmo apreciando a corrida ao sucesso internacional através do surfe de competição, poucos tinham condições de surfar ao nível de competição. Na verdade, a grande maioria dos surfistas na época praticava o esporte por diversão e contato com a natureza. Com a aproximação dos anos setenta o surfe desenvolveu dois campos distintos, daqueles que viam o surfe como uma competição e meio de atingir reconhecimento profissional, e daqueles tinham o surfe como um estilo de vida e o praticavam por amor. Assim, competidores e a associação de surfe profissional continuavam promovendo o surfe como um esporte, enquanto surfistas de alma, feitos ciganos, juntavam suas tralhas e viajavam a costa australiana em busca de ondas perfeitas e experiências divertidas.
Por um tempo o surfe continuou com esse choque de identidade e era visto por muitos como um movimento contra-cultural, com sua linguagem própria, atitude anti-social, abandono dos hábitos 'hippy', uma reflexão das atitudes dos jovens ao final dos anos sessenta.

Surfistas eram geralmente assediados simplesmente por serem surfistas, vistos como uma ameaça a decência da sociedade. Ao mesmo tempo, inúmeros de surfistas lutaram contra a imagem do "surfista hippy louco e drogado" para tentar promover o surfe como um esporte profissional. No começo da década de setenta as competições de surfe profissional se tornaram comuns e meados da década o "Professional World Surfing Championship" (Campeonato Mundial de Surfe Internacional) foi instituído tendo como primeiro vencedor o australiano Peter Townend.

Surfistas australianos dominaram as competições por quase todos os anos setenta. Michael Peterson do estado de Queensland por algum tempo foi visto por muitos como o melhor surfista do mundo e era temido por seus adversários por seu estilo competitivo. Ele dominou o surfe australiano no começo da década de setenta, mas logo desapareceu do cenário das competições devido ao envolvimento com drogas, problemas com a polícia e doença mental.

Com a evolução do surfe profissional e o amadurecimento de sua indústria, a imagem do esporte começou a melhorar diante de toda a sociedade com surfistas sendo regularmente entrevistados na TV. O surfe agora parecia saudável e divertido com seus competidores aparecendo como energéticos e articulados esportistas. Mark Richards era o novo herói do surfe australiano, pois dentro d'água ele carregava o espírito competitivo de 'Midget', Nat e MP, e fora d'água era um ótimo embaixador do surfe. Além de elevar os padrões do surfe ele ajudou a modernizar os equipamentos da época adotando pranchas com duas quilhas curtas e largas que lhe ofereciam um melhor desempenho que ficou evidente ao ganhar consecutivamente quatro Circuitos Mundiais de Surfe entre 1979 e 1982.

No mesmo período os negócios do surfe estavam realmente maduros. Companhias como Rip Curl e Quiksilver haviam estabelecido uma firme base em Toquay e estavam criando produtos com inovações e os vendendo para diversos lugares do mundo, tornando-se então marcas globais. Assim, com a intenção de promover ainda mais sua marca e produtos, as empresas começaram a investir em competições e competidores, bem como, os apresentando através da mídia especializada que também foi muito beneficiada. Com isto, a comercialização do surfe foi se espalhando cada vez mais e pessoas puderam vislumbrar um apelo ao mercado de massa para produtos de surfe.

A imagem dos surfistas continuava a mudar nos anos oitenta, assim como, a imagem do surfe de alma foi varrida diante de uma forte onda do surfe profissional. Com isto, o estilo e graça do surfe tradicional foi trocado por uma maneira mais radical e agressiva de surfar. Nesse estilo o surfe australiano estava com força total e teve entre seus representantes campeões mundiais como Tom Carroll, Damian Hardman, Barton Lynch, Pam Burridge, Wendy Botha (naturalizado australiano) e Pauline Menczer.

O desenvolvimento das pranchas de surfe estava longe de ser linear até meados dos anos oitenta e a tendência era de pranchas menores e mais leves e muita experimentação de novos designs. As tamanho das pranchas estava na volta dos 6' e surfistas começaram a testar diversas variações de quilhas. Enquanto Mark Richards se popularizou pelas biquilhas, Simom Anderson desenvolveu as revolucionárias pranchas de três quilhas. No entanto uma coisa curiosa aconteceu nesta década, foi o renascimento dos 'longboards' numa versão mais moderna, feitos com materiais mais leves e adaptação de múltiplas quilhas. Na mesma época, roupas de neopreme deixavam os surfistas mais aquecidos e as cordinhas (leach) facilitavam suas vidas. Também surgiu o 'boogie board' (ou body board) e assim até mesmo uma criança poderia surfar.

Escolas de surfe se tornavam comuns em diversas praias populares e começaram a usar pranchas mais macias feitas do mesmo material de um 'body board', o que representou uma alternativa mais segura para grandes grupos aprenderem a surfar. Um crescente interesse pelo surfe feminino também chamou a atenção da indústria que começou a produzir produtos específicos e adaptados para esse público. Os equipamentos de surfe passaram por um longo período de pesquisa e desenvolvimento que gerou produtos para um melhor desempenho do surfista, por exemplo, as roupas de neopreme ficaram mais quentes e flexíveis. Assim, a variedade de produtos e empresas com base no surfe continuou a crescer.

Layne Beachley continuou a longa história de surfistas australianos campeões e veio a ser a surfista (entre homens e mulheres) com mais sucesso no surfe de competição do país. Layne, fantasticamente obteve sete Títulos Mundiais (sendo seis desses vencidos consecutivamente) e continua a ser uma presença muito competitiva no Circuito Mundial Feminino. Outro que fez história foi Mark Occhilupo, que depois de abandonar as competições por um longo tempo, retornou para se tornar em 1999 o mais velho surfista a vencer o circuito mundial de surfe. Em 2007, Mick Fanning ganhou campeonato mundial e acabou com a longa dominação de Kelly Slater e Andy Irons nesta década. Nesse mesmo ano, Stephanie Gilmore foi outra australiana a ganhar o campeonato mundial feminino. Assim, surfistas australianos continuam a reforçar a imagem dos australianos como jovens atléticos, bronzeados e amantes da praia, enfim 'aussies'.

Obs: texto cedido por Craig Baird, Curador do Surf World Museum. Traduzido e editado por Tiago Dias.

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