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Variáveis Oceanográficas*

O maior desejo de todo o surfista, quando viaja, é pegar ondas perfeitas. No entanto, é preciso estar no lugar certo e na hora certa para que isso aconteça. Assim, ter conhecimento das variáveis que contribuem para as condições estarem clássicas será fundamental na hora de procurar as melhores ondas.

As principais variáveis que influenciam na qualidade de uma seção de surf são: as ondas (logicamente), a bancada, a maré e o vento. Quanto mais harmonia houver entre as quatro, mais perfeita estará a formação das ondas. A seguir, uma breve explicação e algumas dicas de como obter informações sobre cada uma delas.

As Ondas

Sabe-se que, quanto maior for a intensidade do vento sobre o oceano, maiores serão as ondas; contudo, além da intensidade do vento, existem mais dois fatores que contribuem para a geração de boas ondas: é necessário que exista uma área relativamente grande do oceano exposta à ação do vento e que esse vento possa atuar por um período de tempo suficiente de modo a permitir que a energia existente no ar seja passada para o oceano. A combinação dos três fatores normalmente ocorre na presença de tempestades, podendo as ondas do mar serem classificadas em dois grupos:

(1) as vagas, em inglês “sea”, ondas encontradas dentro da zona de geração ou que estão sendo formadas pelo vento, recebendo energia do mesmo. Em tais condições, as ondas ficam mexidas, pois não possuem uma direção preferencial e apresentam diversos períodos.

(2) ondulação, em inglês “swell”, ondas que já saíram da zona de geração e que se propagam livremente pelo oceano.

Os sistemas atmosféricos que geram as ondulações normalmente deslocam-se de oeste para leste e é por isso que as costas oeste e sul da Austrália possuem uma maior constância de ondas grandes, enquanto a leste depende de ciclones locais para ter ondas maiores.

Quanto mais longa for a viagem da ondulação, melhor poderá ser a formação das ondas.

Uma boa dica para identificar se uma ondulação é viajada, isto é, bem organizada é observar o período de pico da mesma, facilmente identificado nos sites de previsões, já que ele indica o tempo que duas cristas consecutivas levam para passar pelo mesmo ponto fixo, estando diretamente relacionado à distância entre uma onda e outra. Assim, um período maior indicará que a ondulação está mais limpa e as ondas poderão quebrar mais perfeitas.

A direção principal da ondulação é outro fator importante, pois influencia a formação das ondas, ao se chocarem com a bancada. Um choque direto com o banco provavelmente fará com que a onda feche. O ideal é que a ondulação encontre o banco de 30° a 70°, como a lâmina de uma tesoura encontra a outra, fazendo com que a onda quebre gradualmente.

O tamanho das ondas também é determinante na escolha do lugar para surfar. É bom lembrar que nem sempre as maiores ondulações serão as melhores. Isso dependerá das características de cada lugar. Alguns só estarão bons em pequenas ondulações; outros, apenas em grandes, enquanto alguns ainda poderão ser bons para ambos os tamanhos.

Por isso é sempre bom estar atento aos fatores citados; em ondulações grandes, procure lugares mais protegidos e, de preferência, onde a ondulação entre atravessada na bancada. Já para dias com ondulações menores, procure praias mais expostas, que recebam mais facilmente as ondulações.

A Bancada

A bancada (banco ou fundo) é um fator predominante na formação da onda em que pretendemos surfar, pois é no encontro com aquela que esta toma forma e quebra, possibilitando, assim, ser surfada. As bancadas podem ser formadas por areia (beach break), pedra (point break), arrecife de arenito ou coral (reef break), e até mesmo de materiais mistos.

O formato da bancada influencia diretamente a formação da onda. Bancadas em forma de curva são consideradas melhores, por manter um bom ângulo com a onda, fazendo com que ela quebre gradualmente; um bom exemplo disso é a onda de Snnapper Rocks, que se estende por vários metros na sua bancada, quase em forma de anzol.

Além disso, sua inclinação também é importante porque determinará a força com que a onda quebrará: quanto maior essa inclinação, maior será seu choque e, consequentemente, mais forte quebrará, fazendo, muitas vezes, com que fique tubular, como, por exemplo, em Gnaraloo e The Box. Por outro lado, bancadas mais planas deixarão as ondas mais cheias e rolando mais para frente, caso de Bell’s Beach.

Por ser formada de pequenos fragmentos, a areia dos beach breaks pode ser facilmente movimentada pelas ondas ou correntes. Com isso, o tipo de bancada em questão pode ser bastante variável quanto à forma, constantemente modificada. Já os point breaks e reef breaks são constantes por não poderem ser movimentados e alterados facilmente, exceto os fundos mistos que, devido ao acúmulo de areia, podem sofrer algumas alterações.

A Maré

Uma das maiores influências da maré na formação da onda se deve ao nível do oceano em relação à bancada. Em muitos lugares, isso pode alterar totalmente tal formação, pois poderá deixar a bancada funda ou rasa demais, fazendo com que as ondas não quebrem, fiquem muito “gordas” ou muito fortes.

Em lugares assim, será muito importante observar a maré e sua influência nas ondas, visto que isso será determinante para se pegar as melhores ondas. No entanto, a maré nunca é constante e nem igual em todos os lugares; assim, torna-se necessário o uso de uma tábua da maré de cada local em que se for surfar, ou até mesmo de um relógio com a maré de vários lugares.

O Vento

Enquanto as outras variáveis dão forma à onda, os ventos dão os retoques finais à sua formação.

Os ventos mais desejados pelos surfistas são os ventos de terra, ou terrais, que, ao baterem de frente com a onda, fazem com que ela fique mais bonita e ajudam a deixá-la tubular. Porém, se os mesmos estiverem muito fortes, também poderão atrapalhar a surfabilidade, pois empurram o surfista para trás e fazem com que perca velocidade.

Por sua vez, os ventos do mar, ou marais, não deixam as ondas muito bonitas e, quando muito fortes, podem comprometer totalmente a sua formação. Por outro lado, quando leves e acompanhados de uma boa ondulação, podem deixar as ondas muito manobráveis. O vento terral e a calmaria têm predomínio durante as manhãs, enquanto o maral começa a aparecer à tarde.

Dias sem vento também podem ser ótimos para surfar, pois não interferem na formação da onda e o mar fica bem liso.

O livro (guia) “Surfando na Terra dos Cangurus” contém informações gerais sobre as referidas variáveis em cada região, bem como tabelas com breve estudo das características de cada praia. Isso o ajudará na escolha da região onde pretende surfar. No entanto, durante a viagem em busca da onda perfeita, é necessário comparar essas informações com as ondulações e os ventos. Além de ficar de olho na previsão, é muito importante observar o mar constantemente para tirar suas próprias conclusões.

De preferência, fique em praias que apresentam constância de ondas e um bom lugar para observar as ondulações e ventos, pois, assim, mesmo que ela não esteja nas condições ideais, servirá de termômetro para indicar a você a melhor direção para se deslocar.

* Colaboração: Marco Romeu

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